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12 de outubro de 2009

A dor do vazio - Roberto Barbieri

A dor do vazio - do amigo Roberto Barbieri Historicamente observamos que a evolução mental do ser humano em todas as épocas do que chamamos de período de civilização, nos mais diversos contextos e culturas, se deu de uma forma muito semelhante uma da outra e, já que este período de civilidade é muito curto em termos evolutivos, continua até os dias atuais de uma forma também parecida na mente humana. Dentro do mesmo contexto histórico, verifica-se que o ser humano primitivo evoluiu para o estado de consciência através da sua capacidade cerebral de observar a natureza, de aprender com a experiência, de emocionar-se, de levantar os olhos para cima e deslumbrar-se com a imensidão do universo diante de seu frágil corpo, de imaginar situações e propor soluções, de lembrar-se do passado e fazer previsões para o futuro, enfim todo um processo pequeno inicialmente que subiu gradativamente em complexidade. Este estado de consciência, ao mesmo tempo que possibilitou a evolução e criação de um modo de pensamento de formas abstratas, entre elas as ditas espirituais, trouxe também problemas ao ser humano, ao descobrir questões sobre as quais não encontrou respostas na natureza, tais como a origem da sua própria vida, o seu destino após a morte, a questão da sua finitude, gerando lacunas que trouxeram um verdadeiro tormento ou tortura mental. Na preservação da vida, o cérebro humano tratou logo de encontrar uma solução para as inquietações e preenchimento dos vazios criados pela própria capacidade de se localizar no meio onde ocorre a vida de cada ser. Junto com a manifestação das emoções, surgiu a capacidade artística e junto com a razão, os questionamentos e desenvolvimento do aprendizado empírico, completados pela criação de um sistema que desse sustentabilidade ao próprio indivíduo, ou seja, a ligação com o imponderável e que não era explicado pelo natural, criando-se a partir daí as “revelações” divinas e os conseqüentes processos de ligações da sua natureza carnal com este novo plano, plano este onde estariam os deuses. Estes processos de observação e ligação aos deuses se traduziram nas inúmeras religiões criadas ao longo dos tempos e culturas. A evolução destes mesmos sistemas proporcionou o surgimento da fé, que veio a preencher esta necessidade mental que nos traz tranqüilidade quanto ao futuro, bem como eliminar a inquietação da falta de informações e respostas concretas. Por isto é notório e sabido o quanto a fé e a crença no imponderável é necessária ao ser humano, este ser mísero e falível, considerando-se o estágio mental em que se encontra. As inquietações e faltas de respostas ficam amenizadas neste sistema, trazendo quem sabe um estado de maior felicidade, mesmo que muitos o considerem ilusório, apesar de que a ilusão também faz parte da vida pensante. Para o modo de pensar dominante, o normal do cérebro humano é ter esta dependência etérea e a subjugação a um hipotético ser superior e criador, que por sua vez seria intimamente ligado com sua criação, estando o homem na qualidade de ser mais próximo do divino controlador do universo. Parece que esta ligação soa de forma muito pretensiosa... Os que não pensam da mesma forma, seriam considerados também por este modelo dominante de pensar, como seres incompletos e involuídos, cujo vaticínio, se quiserem se aproximar da perfeição, seria a conversão para um dos deuses “verdadeiros” que cada grupo apregoa ou pelo menos admitir-se uma filosofia que leve ao supremo, mesmo à custa da renúncia da própria honestidade intelectual, aplacando-se assim sua sina de sentir a doce dor do vazio. Quem sabe a história futura encontrará (ou não) a melhor explicação ou se continuaremos a inventar respostas àquilo que nos é ainda incompreensível. Roberto Barbieri

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