IDENY ESCRITOS & TELAS

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5 de janeiro de 2012

Do site ESCREVA LOLA ESCREVA...

GUEST POST: SIM, SOU ALGUÉM E SOU FELIZ SEM DEUS

- Johnny, já chequei três vezes: não há ateus embaixo da cama!

Apesar de eu não ser
uma ateia militante (combato os preconceitos que inúmeras religiões ajudam a perpetuar, mas não tento fazer com que ninguém abandone sua religião), nunca estive no armário. Sou uma ateia assumida, e isso já tem décadas. Sinto-me ofendida quando ouço que ateus não têm morais, valores, ou ética. Portanto, me encho de orgulho de publicar um guest post como este do Robson, do blog Consciência, que já colaborou demais com este bloguinho ao escrever outros três posts condenando o uso genérico da palavra homem para se referir ao ser humano, e outro post (um dos campeões de comentários) sobre ateofobia. Obrigada por mais este post, Robson. Concordo com tudo, com exceção dos seus gostos pessoais (você gosta de hobbits!).

Sou alguém e sou feliz sem (um) Deus. Sou ético e tenho bom coração sem ele. É o que sou. Sou aquilo que tan
tos religiosos juram que não existe: alguém que descrê em Deus, respeita os irmãos de senciência e leva uma vida agradável –- não a mais agradável possível, com que eu sonho diariamente, mas me sinto bem confortado com o que tenho ao meu alcance hoje, livre de grandes problemas.
Religiosos ateofóbicos dizem que ninguém pode ser feliz nem bondoso sem o Deus deles. Dizem que ninguém que não crê em Deus pode viver uma vida boa, saudável e moralmente reta. Para eles eu sou alguém que não existe. Porque sou feliz e bondoso sem um Deus para me guiar e moralizar.
Não me sinto superior de forma alguma, mas eu sinceramente posso sentir uma ponta de pena daqueles que dizem coisas do tipo “Sem Deus eu não sou ninguém”, “Sem Deus eu não sei viver”, “Sem Deus eu não sou nada!”, “Sem Deus minha vida não tem sentido!”. Porque isso revela um tanto de pequenez, submissão humilhante e autoestima deficiente viciada na religião. E também porque há no planeta centenas de milhões de pessoas -– talvez passem do bilhão -– que, a despeito da crença auto-humilhante e negacionista de tantos crentes, são algo/alguém, sabem viver e têm uma vida provida de sentido sem uma entidade superior que chamem de Deus.
Tenho família e amigos fiéis e sou financeiramente razoável (nem pobre nem abastado). E, claro, sou cheio de amor para dar. Amor a tod@s –- mulheres (em todos os sentidos), homens (fraternidade, amizade, respeito e apreço), animais não humanos (carinho, amizade e respeito ético) e Natureza silvestre (devoção, carinho, comunhão espiritual e profundo respeito não só como mantenedora da vida, mas também como portadora de um sentido intrínseco que eu gostaria de desvendar).
Gosto de computador, de internet, dos meus blogs, dos meus artigos, do Twitter, de alguns “blogs sujos”, de alguns blogs de humor, das tirinhas de memes, do Trollface, do FFFFFUUUUU-, de games de estratégia, de praia, de viajar, de florestas, do céu estrelado da noite, de contato com a Natureza, de animais não humanos (o que se reflete também em meus hábitos de consumo), de Coldplay, de synthpop, de new wave anos 80, de rock pernambucano, do antigo movimento Rock Brasil, de sair com amigos, de paquerar, de amar, de visitar livrarias, de sucos de maracujá e acerola, de comida vegana, de revisão e correção de textos, de livros, de sociologia, da esquerda política, de feminismo, de abolicionismo animal, de antimilitarismo, de ambientalismo, de teoria socioambiental, de Educação Ambiental, de História à Annales, de ler sobre religiões politeístas e orientais, de literatura ateísta, de O Senhor dos Anéis, de Star Wars, de Matrix, de Smallville, de Beavis & Butt-head, de Cavaleiros do Zodíaco, de Dragon Ball Z, do anime Yu-Gi-Oh, de Capitão Planeta, dos Simpsons, de Chaves, de Chapolin, de rir com gols contra… Sou um ser humano íntegro, com emoções, gostos, interesses, necessidades, anseios, sonhos, tudo o que um ser humano normal tem.
Sou, estou, sinto, gosto, amo, detesto, sofro, protejo, luto, rio, choro, regozijo, trabalho, contemplo, medito, conquisto, fracasso, venço, perco, supero… Sem Deus. Sem Javé, sem Cristo, sem Allah, sem Zeus, sem Xangô, sem Shiva, sem Odin, sem Amaterasu, sem a Deusa e o Deus, sem Ísis, sem Dagda, sem Marduk, sem Baal, sem Ngai, sem Quetzalcoatl, sem Inti, sem Aton, sem nenhuma deidade.
Sou um dessas centenas de milhões de seres humanos que sabem que sentido da vida, ética, bondade e alegria de viver independem de religião e crença. Não preciso de deus nenhum, tampouco de recompensas e punições como o céu e o inferno cristãos, para me dizer o que é certo e errado e que devo ser submisso a uma divindade altamente contraditória para ser feliz. E isso, a despeito da intolerante crença de tantos, não me tira o conceito de moral -– pelo contrário, modéstia à parte, minha consciência ético-moral respeita e zela por muito mais seres vivos do que a média da população religiosa respeita (ou diz respeitar), ainda que isso não seja regra no ateísmo.
Por mais que suas igrejas e a Bíblia neguem isso aos cristãos pouco tolerantes, há ateus boníssimos e cristãos perversos e criminosos –- da mesma forma que há também cristãos boníssimos e ateus perversos e criminosos. Ao contrário do que os Datenas da vida vociferam, não ter Deus no coração não me leva a cometer nenhuma violência, crueldade, crime ou transgressão legal, ao mesmo tempo em que “amar a Deus sobre todas as coisas” não impede que tantos padres abusem de crianças, inúmeros pastores extorquam seus “cordeiros” e muitos fanáticos assassinem e destruam “em nome de Deus”.
Não vou me arrogar como um exemplo de pessoa moral e reta, tenho defeitos e vícios (nenhum, porém, que comprometa minha saúde) como qualquer ser humano, mas minha vida e personalidade me são bastantes para derrubar diversos odiosos mitos morais que envolvem o ateísmo.
Como o de que Deus seria necessário para dizer o que é certo e errado: especialmente porque muito do que a tal moral bíblica diz como certo os Direitos Humanos e também os Direitos Animais, ambos de cunho essencialmente secular, consideram eticamente censurável –- guerras, genocídios, sacrifícios animais, estupros, machismo, homofobia, intolerância religiosa, ódio, extorsão com pretextos religiosos etc. E porque mesmo a grande maioria dos ditames morais que os cristãos obedecem hoje não são bíblicos, mas sim laicos -– em outras palavras, mesmo para os próprios crentes a Lei de Deus na prática não prevalece mais sobre a Lei dos Humanos (“dos homens” não, por favor).
E o de que o ateísmo teria sido responsável pela malignidade dos Stalins, Pol Pots e Milosevics da vida: além desse mito ser uma generalização extremamente preconceituosa e ignorar que, ao contrário das religiões, o ateísmo, não sendo nenhum sistema organizado de crenças mas sim a ausência dele, não determina qualquer orientação moral, ele ignora a existência dos assassinos cristãos que até apelaram ao seu Deus para justificar seus crimes, como Hernán Cortés, Francisco Pizarro, Adolf Hitler, Tomás de Torquemada, George W. Bush, Teodósio e inúmeros papas das Idades Média e Moderna.
Sou algo e alguém, sou feliz e moralmente reto e minha vida tem todo um sentido sem Deus, e não tenho vergonha nenhuma de dizer isso, pelo contrário. Faço questão de fazê-lo -– aliás, sou obrigado a isso, ainda mais neste país em que infelizmente a não amoralidade ateísta não é considerada algo óbvio. E sou mais satisfeito ainda por poder dizer que sou oposto aos religiosos intolerantes e teocêntricos no que tange a ser livre daquela submissão e autoestima viciada que condiciona todo o sentido da vida, a felicidade e a própria qualidade de ser algo ou alguém a um Deus específico.
É para mostrar que ateus também são gente como qualquer cristão, como qualquer religioso, que escrevi este texto. Para mostrar que todos os seres humanos são moralmente iguais, são igualmente humanos, são igualmente sencientes, são igualmente vivos, são igualmente seres com ou sem Deus. E não é a ausência dele que nos faz deixar de ser tudo aquilo que somos em essência.
Se você ainda acredita que sem Deus é impossível ser alguém e viver, conheça a nós ateus. Conviva conosco. Busque nos entender. Abandone seus preconceitos. Aceite-nos como somos. Aceite os irreligiosos que somos.

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