IDENY ESCRITOS & TELAS

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15 de janeiro de 2010

conto do dia a dia

Vai completar dois meses que ela esta comigo. Vem só na parte da manhã, e no horário do meu café, é o momento que trocamos algumas palavras. Mas nada pessoal, só coisas do tipo como está o tempo hoje... será que chove? Mas nao precisava ela me dizer muito, eu sabia que ela era crente... Não, não é a luz que irradia de todo crente, como eles dizem, que me fez perceber. Era o jeito, que nao sei explicar. Um dia falei a meu marido: - Esta senhora tem cara de crente! ( sem preconceito...sic)... - Por que este comentário? -Não sei, ela tem jeito de quem participa das "tardes das bençãos!" - Por que vc diz isto? - Ainda nao sei bem, talvez a fisionomia sofredora, algo nela me diz! - Nossa como vc é maldosa! - Pois é, sou, que vergonhar... mas é isto que estou pensando agora e nem sei porquê... pensei simplesmente, vc esta estranhando, porque normalmente as pessoas pensam e nao dizem, e eu estou dizendo. Vários dias se passaram, e uma manhã dessas, levantei, sentei para tomar meu café e puxei prosa, falei qualquer coisa que encaixasse minha pergunta, totalmente inútil, não iria mudar em nada coisa alguma, mas se tornou uma curiosidade sem sentido, e tinha de sabê-lo. No fundo o que eu queria era testar se minha intuição ou "faro para crente", como diz ironicamente meu marido, funcionava mesmo. Nao deu outra. Ela era evangélica, e justamente da Quadrangular, que tem nas quartas feiras, a famosa tarde da benção! Só que a mulher se animou com o assunto e se pos a falar sem parar. Justo ela que mal fala, ao contrário da anterior que trabalhava aqui, que mais parecia uma papagaia. -"Eu sou evangélica... minha irmã não. Minha irmã é daquelas que tudo é só santo para ela"... (ela nem dava intervalo, falava uma coisa atrás da outra, como se eu tivesse tirado o dedo do dique furado...)... "Minha irmã, agora no final do ano, pediu para nossa senhora, imagina, se nossa senhora existe, mas ela pediu, pediu para ganhar aquela grana toda acumulada no jogo, disse que tinha certeza que nossa senhora ia ajudar... e nada"... Eu sorvia um gole de café atras do outro, numa mudez estúpida... quem mandou eu perguntar...rs... ela continuou: - "Então este negocio de santo eu acho palhaçada, em vez de pedirem para deus, mas nao, tudo é santo"... Eu ria um riso torto, olhava para a xícara, para ela... Aí foi quando ela disse: - Imagine que o patrão do Vitor disse que deus nao existe! - Quem é Vítor? ( eu perguntei) - Vitor é meu marido... ( como se fosse a coisa mais obvia do mundo), e continuou na mesma empolgação: "o patrao dele diz que deus nao existe coisa nenhuma, imagine se deus nao existisse coitado de nós, nao ia poder nem sair da porta para fora"...( fiquei tentando imaginar o que ela quis dizer na verdade com "se deus nao existisse nós nao sairíamos nem da porta para fora... mas abstive-me de perguntar...eu, hein?) Daí ela deu o grande final: - "só porque ele é rico, se acha no direito de nao acreditar nem em deus, pensa que pode tudo"! Eu ri, apenas ri... Depois fiquei pensando, por que será que ela frisou tanto a aversão por santos? Será que tomou as estátuas das deusas de vênus e artemis de minha sala por santas? Mas santas peladas? Nossa, impossivel não é. Uma vez, um amigo me contou que enviou imagens de estátuas gregas a outra amiga virtual, e ela reclamou que ele estava enviando pornografia... (Numa dessa!)... Quem mandou eu perguntar... ficasse na desconfiança...