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4 de julho de 2011

Carta de Hitchens aos ateus americanos

Carta de Hitchens aos ateus americanos


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Christopher Hitchens estava agendado para aparecer na convenção de ateus americanos, mas teve de cancelar por causa de sua doença. Então, em vez de comparecer à convenção, mandou esta carta.
Caros companheiros descrentes,
Nada me impediria de me juntar a vocês exceto a perda da minha voz (ao menos a voz falada) que por sua vez é devida à longa discussão que no momento estou tendo com o espectro da morte. Ninguém jamais ganha esse debate, embora haja alguns sólidos argumentos a serem feitos enquanto a arguição continua. Eu descobri, enquanto o inimigo se torna mais familiar, que todo o apelo especial por salvação, redenção e libertação sobrenatural me parece ainda mais oco e artificial do que antes. Espero ajudar a defender e passar adiante as lições disso para muitos anos vindouros, mas por agora encontro minha confiança melhor aplicada em duas coisas: as técnicas e princípios da ciência médica avançada, e a camaradagem de inúmeros amigos e da família, todos eles imunes ao falso consolo da religião. São essas forças entre outras que acelerarão o dia em que a humanidade se emancipará das algemas mentais da subserviência e da superstição. É nossa solidariedade inata, e não algum despotismo celeste, que é a fonte da nossa moralidade e do nosso senso de decência.
Esse sentido essencial de decência está sendo ultrajado todos os dias. O nosso inimigo teocrático está à plena vista. Em múltiplas formas, ele se estende desde a evidente ameaça de mulás armados com artefatos nucleares às insidiosas campanhas para termos absurdas pseudociências ensinadas nas escolas americanas. Mas nos últimos anos, houve sinais animadores de uma genuína e espontânea resistência a essa baboseira sinistra: uma resistência que repudia o direito de valentões e tiranos de fazer a absurda alegação de que deus está do lado deles. Ter tido um pequeno papel nessa resistência foi a maior honra da minha vida: o padrão e propósito de todas as ditaduras é a rendição da razão ao absolutismo e o abandono do questionamento crítico e objetivo. O apelido vulgar para esse delírio letal é religião, e nós temos que aprender novas formas de combatê-la na esfera pública, da mesma forma que aprendemos a nos libertar dela na nossa vida privada.
Nossas armas são a mente irônica contra a literal; a mente aberta contra a crédula; a busca corajosa pela verdade contra as forças amedrontadas e abjetas que querem colocar limites à investigação (e que estupidamente alegam que já temos toda a verdade de que precisamos). Talvez acima de tudo, nós afirmamos a vida acima dos cultos à morte e ao sacrifício humano e temos medo, não da morte inevitável, mas de uma vida que é limitada e distorcida pela necessidade patética de oferecer uma adulação acéfala, ou a triste crença que as leis da natureza respondem a lamúrias e encantamentos.

Sinceramente,
Christopher Hitchens

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