Sobre a histeria nuclear
Por que, depois de mais de 50 anos da invenção e do uso seguro da energia nuclear como fonte de eletricidade, o preconceito com tal energia não tão convencional vem a ocupar o imaginário do cidadão desinformado, dando-lhe uma roupagem de destruição? Certamente as imagens de Hiroshima e Nagasaki queimadas sob o holocausto nuclear assombram o mundo ainda hoje, mas associar a energia nuclear ao seu suposto poder destrutivo quando usada como arma é como se negar a usar aviões a jato porque existem B-52 e Tu-160. Não é como se houvesse uma Chernobyl a cada esquina. Analisemos os fatos.
Fukushima logo levantou a mídia mal feita da era virtual, jogando os olhos dos “repórteres” e “jornalistas” diretamente para todas as outras usinas do Japão, na esperança de encontrar mais alguma à beira da explosão. Logo trataram de noticiar sobre Tokai e Onagawa, que apresentaram também, naturalmente, problemas devidos ao terremoto.
Apesar de caras de construir, usinas nucleares (devido à alta densidade de energia do combustível) operam com baixo “consumo” de urânio. Duram 60 anos em média, e não estão sujeitas às sazonalidades das chuvas, como as hidrelétricas, o que no passado contribuiram aqui na nossa terrinha para o famoso “apagão” – o racionamento de energia de 2001.
Atualmente a energia no Brasil não é tão barata quanto queremos e quanto pensamos. O kWh residencial chega a custar 44 centavos de real em certos lugares, enquanto na França, com matriz fortemente nuclear, custa 18 centavos de real. Nos EUA, este valor é similar.
Além disto, o Brasil é a sexta maior reserva de urânio do mundo atualmente: 310 mil toneladas de óxido de urânio em apenas 25% de prospecção do território nacional. Combinado à tecnologia brasileira das ultracentrífugas de enriquecimento da Marinha do Brasil, é possível produzir combustível nuclear para fins pacíficos com tecnologia e material 100% nacional, possivelmente reduzindo os custos da energia elétrica.
- 28 de março de 1979 – ESTADOS UNIDOS – Em Three Mile Island (Pensilvânia), uma série de erros humanos e de falhas materiais impediram o resfriamento normal de um reator, cujo centro começou a derreter. Os dejetos radioativos provocaram uma enorme contaminação no interior do recinto de confinamento (Containment Building), mas não afetou a população nem o meio ambiente. Cerca de 140 mil pessoas foram temporariamente deslocadas. O acidente foi classificado no nível 5 da escala internacional de eventos nucleares (INES), de um total de sete níveis.
- Agosto de 1979 – ESTADOS UNIDOS – Um vazamento de urânio em uma instalação nuclear secreta perto de Erwin (Tennessee) contaminou cerca de mil pessoas.
- Janeiro-Março de 1981 – JAPÃO – Quatro vazamentos radioativos ocorrem na usina nuclear de Tsuruga (centro). 278 pessoas foram contaminadas por radiação.
- 26 de abril de 1986 – URSS – O reator número 4 da usina soviética de Chernobyl (Ucrânia) explodiu durante um teste de segurança, causando a maior catástrofe nuclear civil da história e fazendo mais de 25 mil mortos (estimativas oficiais). Durante dez dias, o combustível nuclear queimou, jogando na atmosfera radionuclídeos de uma intensidade equivalente a mais de 200 bombas atômicas iguais a que caiu em Hiroshima e contaminando três quartos da Europa.
Moscou tentou encobrir o desastre e, depois, minimizar o acidente, classificado em nível 7. As vítimas foram em maioria russos, ucranianos e bielorrussos que participaram da limpeza e da construção de um sarcófago ao redor do reator acidentado.
- Abril de 1993 – RÚSSIA – Uma explosão na usina de reprocessamento de combustível irradiado em Tomsk-7, cidade secreta da Sibéria Ocidental, provocou a formação de uma nuvem e a projeção de matérias radioativas. O número de vítimas é desconhecido.
- 11 de março de 1997 – JAPÃO – A usina experimental de reprocessamento de Tokaimura (nordeste de Tóquio) foi parcialmente paralisada depois de um incêndio e de uma explosão que contaminou 37 pessoas.
- 30 de setembro de 1999 – JAPÃO – Um novo acidente no centro de Tokaimura, devido a erro humano, levou a morte dois técnicos. Mais de 600 pessoas, funcionários e habitantes do entorno, foram expostas à radiação e cerca de 320 mil pessoas foram evacuadas da área. Esse acidente, classificado em nível 4, foi o mais grave depois de Chernobyl.
Os dois técnicos haviam provocado involuntariamente um acidente de criticidade (reação nuclear descontrolada) ao utilizar uma quantidade de urânio muito superior à prevista durante o processo de fabricação.
- 9 de agosto de 2004 – JAPÃO – Na usina nuclear de Mihama (centro), vapor não radioativo vazou por um encanamento que se rompeu em seguida, ao que parece, por uma grande corrosão, provocando a morte de cinco funcionários por queimaduras.
- 23 de julho de 2008 – FRANÇA – Durante uma operação de manutenção realizada em um dos reatores da usina nuclear de Tricastin (sul), substâncias radioativas vazaram, contaminando muito levemente uma centena de empregados.
- 12 de março de 2011 – JAPÃO – No dia seguinte a um terremoto muito forte seguido de tsunami, uma explosão ocorreu no reator da usina nuclear de Fukushima Nº1 (250 km ao norte de Tóquio).
A energia nuclear produz resíduos
Ninguém está disposto a aceitar esta herança
(http://www.facts-on-nuclear-energy.info/4_waste.php?size=&l=pt&f=)
Cada central nuclear converte, através de fissão nuclear, barras de urânio em resíduos nucleares altamente radioactivos. Estes resíduos colocam em risco a vida humana, devido à sua radioactividade. Por esse motivo, têm de ser protegidos e armazenados fora do alcance de pessoas, animais e plantas durante centenas de milhares de anos. Há cerca de 50 anos que existem centrais nucleares em actividade, no entanto, até hoje não se sabe como se deve armazenar os resíduos nucleares. Não existe em qualquer parte do mundo, um único método para a eliminação segura de resíduos altamente radioactivos produzidos pelas centrais nucleares. Este breve episódio de exploração de energia nuclear deixa-nos – sob a forma de resíduos nucleares – um legado de dimensões histórico-universais. Caso já tivessem existido centrais nucleares no período pré-histórico, ainda hoje estaríamos a vigiar os resíduos nucleares que teriam sido produzidos nessa altura.
só cuspir informação não ajuda nada em tratar o problema, análise crítica, já ouviu falar?
São arquiteturas diferentes, com riscos e técnicas de contenção diferentes, cuidado.
“Pouca gente sabe que a energia elétrica nuclear é a mais segura de ser gerada: são 8 mortes para cada terawatt-hora (TWh) gerado, e esta estatística conta com os dados de experiências traumáticas como Chernobyl, Ucrânia (1986), e Three Mile Island, nos EUA (1979). Comparando com a segunda fonte mais segura, o gás natural de usinas termoelétricas, que contabiliza 85 mortes por TWh, ainda assim são 10 vezes mais mortes distanciando o primeiro do segundo colocado. O carvão e o óleo combustível contabilizam 342 e 418 mortes por TWh, respectivamente.”
Quer falar sobre segurança ou não da geração de energia nuclear? Faça como o Pedro, autor do texto, e apresente dados.
Ótimo texto, Pedro!
http://www.newscientist.com/blogs/shortsharpscience/2011/03/japan-megaquake-update.html
…por que os níveis de radiação estão várias vezes maior do que o normal ao redor da usina em Fukushima?
…por que o governo japonês quer isolar uma área de 20km ao redor da usina?
acho que faltou no texto, muito bem escrito por sinal, falar dos pontos negativos. Me parece parcial e tendencioso…
Os vapores liberados na atmosfera para aliviar a pressão no núcleo contém alguma quantidade de isótopos radioativos de nitrogênio, o que vai acusar radiação acima do normal se você colocar um medidor lá. Porém, esses isótopos são altamente instáveis e decaem muito rapidamente, não apresentando riscos. Não foi liberado nenhum elemento radioativo de alta periculosidade em quantidade preocupante, traços de iodo radioativo e césio foram detectados, mas em quantidades ínfimas e esperadas.
A isolação da área e a distribuição de comprimidos de iodo para a população são procedimentos padrão. Há uma emergência, sim, e deve ser tratada como uma. Mas não há motivos para alarmismo.
Fábio,
Seu trabalho de pesquisa é impressionante, parabéns. Faça uma lista agora dos acidentes causados pelo uso de outras fontes de energia, como petróleo, desde 1979, para agente comparar, tá? Não sei se vai caber, mas…
grato pela informação. pensei q Fukushima fosse PWR (pressurized water reactor). mas no BWR a refrigeração nao entra com contato com as barras, é composta no segundo ciclo. a agua do primeiro (a q ferve) impulsiona a turbina, mas refrigera as barras por efeito secundario, dentro do ciclo térmico. a refrigeração é necessariamente feita pelo condensador.
grato
e o q vc diz dos demais argumentos e referencias do texto?
a explicacao do erich procede.
Tá, mas o que fazemos com o lixo radioativo, que, mesmo com volume reduzido, existe? Achei que ficou faltando falar disso. Você não me convenceu de que não é um “terror”. Note-se que estou perguntando porque realmente não sei; não estou querendo defender nenhum ponto com isso.
Parabéns pelo texto! Está ótimo!
o lixo pode ser manejado de forma segura. containers podem ser construidos para enterrar seguramente o dejeto. as pessoas costumam achar q esse é o X da questao, q esse é o grande problema, e q isso q invibializa. associam a meia vida longa dos restos a problemas. esquecem q material radioativo já existe armazenado naturalmente na crosta, e nao sabem q no passado já “funcionaram” reatores nucleares naturais de fissão na natureza, sem interferencia humana, por centenas de milhares de anos: http://en.wikipedia.org/wiki/Natural_nuclear_fission_reactor
isso significa q existe naturalmente dejetos nucleares enterrados já há mt tempo.
é possivel manejar o lixo enterrando-o e isto é seguro, independente de ele ser ativo por milhares de anos.
alem disto, existem outras alternativas tecnologicas para manejar e neutralizar o lixo: vitrificação, transmutação, etc.
o lixo q realmente é perigoso geralmente é composto por isotopos pesados e de longa meia vida, como o plutonio e o césio. estes podem ser prontamente reciclados e usados em outras aplicações energéticas ou médicas. os demais materiais q entram em contato com o material “forte” (como os moderadores de grafite) tambem sao eventualmente enterrados, mas exigem menos proteção – alguns barris de metal enterrados.
Sob alguns aspectos é verdade que a energia nuclear é mais limpa – no sentido da menor produção de CO2.
Continua, no entanto, a crítica: é irresponsabiliade produzir resíduo MUITO perigoso sem saber como lidar com ele, esperando que gerações futuras o façam.
A frase “esquecem q material radioativo já existe armazenado naturalmente na crosta” é no mínimo simplória. Evidentemente nosso amigo Pedro trabalha em um reator, ou algo parecido e sabe que estamos produzindo elementos que NÃO existem espontaneamente na natureza (já que o número atômico alto provoca rápida desintegração).
Não digo que não se deve usar reatores nucleares. Não sei a resposta para esta questão. Não sei se teríamos outras fontes viáveis. MAs afirmo que os problemas envolvidos NÃO estão resolvidos!
nao trabalho em reator, sou engenheiro eletricista e mestrando na mesma área.
segundo, sim, para manter uma fissao nuclear naturalmente, é necessário condicao similar de isotopos, assim como aconteceu no passado nestes reatores naturais.
os produtos da fissão sao os mesmos.
os problemas nao estao todos resolvidos e procurar uma solucao perfeita é uma distração. temos q ser práticos e procurar soluções viáveis e aceitáveis.
o texto mostra q o risco da energia atomica justifica seu uso. a histeria nuclear é coisa de quem nao leu a estatística.
sim temos q avançar, nao disse q estamos no apice da tecnologia. a ciencia e um processo gradativo. só disse q é um absurdo toda a histeria q a midia faz.
Passarei adiante!
Gostei muito do jeito como você apresentou os fatos e as referências com links. Muito embora, não há como negar, o texto é um pouco tendencioso e pro-nuclear. É praticamente impossível narrar fatos e manter a imparcialidade.
Me considero pro-nuclear, mas gostaria de saber onde encontro mais informações acerca daquele índice de mortes por TWh de cada energia. Eu vi os links que você postou, mas todos eles são citações de blogs, não consegui encontrar o original. Gostaria de saber quais são os critérios da pesquisa porque achei os números bem curiosos.
E acho também que comparar o preço do kWh ao redor do mundo não é a melhor forma de comparação. Eu não li tudo, não sei se aquele é o preço de ‘extração’, puro, ou se é o preço que chega na fatura da conta das pessoas. Caso seja a segunda opção, existe uma série de diferentes tributações que torna ruim a comparação mundial. Acho que até mesmo para o preço da ‘extração’, não seria uma boa comparação.
Muito bom texto, faço questão de repetir.
Abraços
grato. se por ser “pro nuclear” significa q eu defendo o uso da energia nuclear baseado em evidencias q apontam q ela é suficientemente segura, entao sim, o texto é pro-nuclear, e nao precisa ser imparcial, nao é um texto-reportagem, e sim argumentativo. estou defendendo este ponto com argumentos e evidencias.
sobre os valores. estes sao os valores do kwh fornecido pelas concessionarias, i.e., o q chega à sua casa, e nao o de geração unicamente. ele inclui os custos de transmissão e distribuição, mas está isento dos impostos da conta (é o valor base para se calcular o custo da energia gasta, o ICMS por exemplo é calculado sobre o valor final, entao este valor q forneci ainda n inclui este imposto).
qnt à referencia do estudo q apontou as mortes, dois blogs aparentemente indepentendes referenciam o mesmo trabalho de pesquisa. realmente seria interessante encontrar a fonte do estudo, e aconselho buscar no Google Acadêmico por palavras chave em inglês q é bem provavel de encontrar.
abraço
Gostei do texto, mas fui ver a fonte da pesquisa que diz que a energia nuclear é a mais segura fonte de energia, e vi que era o site do heartland institute.
Esse instituto também nega, por exemplo, o aquecimento global – no qual também não sou nenhum especialista, mas acho que os especialistas em geral concordam que existe e que é causado pelo homem.
Será uma fonte confiável?
Tem mais fontes para essa informação da segurança?
E a situação em Fukushima não parece ter piorado?
Essas perguntas são apenas dúvidas mesmo, como leigo no assunto.