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16 de julho de 2010

O Ego e a Fé - Thiago Rodrigues


O Ego e a Fé - Thiago Rodrigues

Amigos escrevi este artigo para minha faculdade, espero que publiquem como fizeram com o sobre ateísmo que escrevi ano passada.

Espero que gostem, é uma visão psicanalítica sobre a fé.
O Ego e a Fé

Thiago Rodrigues da Rocha1
Faculdade de Rolim de Moura - FAROL

Resumo: O presente trabalho foi desenvolvido sobre o pretexto de usar da ótica psicanalítica para estudar a manifestação do comportamento humano da qual denominamos “Fé”. Tendo como proposta a afirmação de que a Fé e a Religiosidade são resultados da ação dos mecanismos de defesa do Ego. Propõe também que os mecanismos de defesa nos impedem de tentar entender a realidade tal como ela é. Como ferramentas de coletas de dados utilizou-se a pesquisa bibliográfica e observação participante.

Palavras – Chaves: Ego, Fé, Psicanálise.
Introdução

Alguém que ouve a palavra fé automaticamente evoca em sua mente ideias relacionadas à religião, ao transcendente, à esperança, à crença num ser divino. Esta palavra é também frequentemente relacionada com as chamadas “virtudes humanas”, tais como o altruísmo, a humildade, e até com conceitos mais amplos como sabedoria e felicidade. A fé sempre foi colocada numa posição privilegiada, onde possui o status de determinante do “comportamento ideal”.

Aprendemos a ver a fé como algo que a principio está fora de nós, e temos que gradativamente adquiri-la e aumentá-la, pois costumasse relacionar a quantidade de fé com a quantidade de comportamentos desejáveis. Há pessoas que dizem orgulhosamente “eu tenho fé”, expressão que pode ser entendida como “eu sou integro, honesto e bom caráter”. A fé é vista como referencial de comportamento, e as pessoas exigem para si os atributos que estão associados a ela.
A proposta do presente artigo é modificar o status de referencial de comportamento que a fé possui, de maneira a reduzir seu conceito a meros resultados da ação de forças defensivas do Ego humano. No intimo do homem, a fé pode não estar relacionada com virtudes, mas sim com tendências egoístas. Para demonstrar com clareza ao leitor as afirmações que serão expressas nas próximas linhas, é preciso explanar simples e brevemente a parte da história e da teoria da Psicanálise que se utilizou para formular o tema deste trabalho.
O aparelho psíquico

Ao escrever o livro “A interpretação dos Sonhos” em 1900, Sigmund Freud estabelece uma primeira concepção da estrutura do aparelho psíquico. Dividindo-o em três instancias ou “lugares psíquicos”, sendo eles o inconsciente, o pré-consciente e o consciente. Cada uma destas instancias diferem em suas funções, porem não podem de maneira alguma serem consideradas independentes uma das outras.
No inconsciente, a maior parte de nossa mente, estão os conteúdos psíquicos que não estão no “território” do consciente, geralmente são conteúdos reprimidos que são impedidos de “saltar” na consciência pela ação das censuras do pré-consciente, o inconsciente não é apenas um depósito onde “se vomita o lixo da mente”, ali estão também conteúdos essencialmente inconscientes, que nunca estiveram na consciência. O pré-consciente é a instancia que se localiza entre o consciente e o inconsciente, ali estão informações que em dado momento podem estar na consciência em outro não, exemplo disso é o fato de que em uma conversa com um amigo, o contexto do diálogo lhe trará lembranças e pensamentos que não estavam em sua consciência até aquele momento. Estavam obviamente no pré-consciente.
Já a consciência, a menor parte do psiquismo, é a parte da mente que está sensível tanto ao mundo externo quanto ao mundo interno do homem, ali estão presentes as percepções, o raciocínio, a atenção e outras potencialidades. Nela está presente apenas aquilo que estamos cientes no momento atual.

Em 1923 Freud remodela o conceito acima descrito, incluindo agora estruturas com Id, Ego e Superego. No Id estão nossas pulsões mais primitivas, destacando-se as de caráter sexual, como um bom fisiologista, Freud descreve o Id como sendo de origem orgânica, sendo que ali opera o princípio do prazer e é o reservatório da energia psíquica.

O Superego Origina-se com o fim do Complexo de Édipo, quando precisamos internalizar os padrões sociais e culturais, as proibições, a moral. Ele atua sempre reprimindo as pulsões do Id. Já o Ego atua de maneira a atender aos desejos do Id sem deixar de atender às proibições do Superego, sempre agindo conforme o princípio da realidade. Sendo o Ego o componente psicológico da personalidade, ele busca estabelecer uma conformidade e equilíbrio entre o componente biológico (Id) e o componente social (Superego). Para o Ego é mais conveniente evitar o desprazer do que buscar o prazer. Suas funções básicas são sentimentos, pensamentos e memória.
Os mecanismos de defesa do Ego

Em dados momentos da vida psíquica de uma pessoa, ela passará por situações ou terá sentimentos internos que serão dolorosos ou até perigosos à estrutura de seu Ego, assim para proteger-se o Ego adota medidas de defesa, que nada mais são do que forças que visão evitar seu sofrimento (evitando o desprazer). Defendendo-o de lembranças traumáticas, pulsões proibidas (socialmente inaceitáveis), e também de fatores externos, como ocorrem em fases iniciais do luto, com a negação do fato da perda. Muitos mecanismos de defesa agem distorcendo a realidade, evitando que o Ego se frustre ao chocar-se com alguns fatos. Nas palavras de Anna Freud:

"A palavra “defesa”, que empreguei tão livremente nos três capítulos anteriores, é a mais antiga representante do ponto de vista dinâmico, na teoria psicanalítica. Surge pela primeira vez em 1894, no estudo de Freud As neuropsicoses de defesa, sendo empregada aí e em muitos de seus trabalhos subsequentes (A Etiologia da Histeria, Observações Adicionais sobre neuroses de Defesa), para descrever a luta do ego contra idéias ou afetos dolorosos ou insuportáveis" (Anna Freud, 2006, p. 37).
Os mecanismos de defesa são muitos, e diferem quanto às suas funções e modo de defesa, tendo em comum a missão de proteger o Ego. Muitos deles foram cunhados por Anna Freud:

"Note-se que Anna Freud não pretende colocar-se numa perspectiva exaustiva nem sistemática, especialmente na enumeração que faz, de passagem, dos mecanismos de defesa: recalque, regressão, formação reativa, isolamento, anulação retroativa, projeção, introjeção, retorno sobre a própria pessoa, inversão em seu contrario, sublimação" (Anna Freud apud Laplanche & Pontalis, 1994, p. 278).
Aqui estão dois exemplos de como atuam os mecanismos de defesa: (1) a negação, onde o Ego nega e exclui do campo consciente um fator da realidade que está lhe agredindo, exemplo: quando alguém nega estar doente ao receber o diagnóstico de que está prestes a morrer (Laplanche & Pontalis, p. 293); (2) a compensação é o mecanismo pelo qual o indivíduo busca inconscientemente compensar uma deficiência que pode ser imaginária ou real, de maneira a se tornar superior de alguma forma. A compensação é uma forma do Ego se defender de seus conteúdos considerados inferiores.

Bom, mas onde a fé e a religiosidade aparecem nesta história? Elas são realmente resultados dos mecanismos de defesa do Ego humano? Como o encanto e as virtudes associadas à fé poderiam ser reduzidas ao medíocre resultado do trabalho de mecanismos que defendem o Ego humano de frustrações? A fé seria uma manifestação do egoísmo do homem? É aqui o ponto principal deste trabalho, que visa expor e defender a idéia da origem egóica da fé.
O Ego e a Fé: uma relação de causa e efeito

A proposta deste artigo é afirmar que a fé resulta de mecanismos de defesa, tais mecanismos atuariam no sentido de combater a angústia sentida pelo homem ao se confrontar com o fato da inevitabilidade da morte:

"O ser humano ainda ao se deparar com o fato inevitável da morte, imagina e deseja uma vida após essa morte, uma vida eterna, num lindo paraíso, ao imaginar isso o ser humano ameniza o sentimento de angústia que surge de seu choque com a realidade" (ROCHA, 2010, p.110).
•Racionalização e Negação

Esta “angústia da morte” faz com que o homem se coloque na tentativa desesperada de derrotá-la, desta forma colocando em cena uma gama de mecanismos defensivos, que geram fantasias inconscientes sobre a morte, onde se nega a aniquilação da existência pela fantasia de uma vida após a morte. Seria uma “Negação pela fantasia”. Sendo que esta fantasia seria nada mais do que uma racionalização, ou seja, o Ego construiria explicações aceitáveis para comportamentos ou desejos cuja origem lhe é desconhecida ou inconfessável:

"Processo pelo qual o sujeito procura apresentar uma explicação coerente do ponto de vista lógico, ou aceitável do ponto de vista moral, para uma atitude, uma ação, uma ideia, um sentimento, etc., cujos motivos verdadeiros não percebe; fala-se mais especialmente da racionalização de um sintoma, de uma compulsão defensiva, de uma formação reativa. A racionalização intervém no delírio, resultando numa sistematização mais ou menos acentuada" (Laplanche & Pontalis, 1994, p. 423).
Sobre a fantasia, pode-se dizer que ela expressa a realização de um desejo, seria uma “satisfação pelo ilusório”:

"Roteiro imaginário em que o sujeito está presente e que representa, de modo mais ou menos deformado pelos processos defensivos, a realização de um desejo e, em ultima análise, de um desejo inconsciente.
A fantasia apresenta-se sob diversas modalidades: fantasias conscientes ou sonhos diurnos; fantasias inconscientes como as que a análise revela, como estruturas subjacentes a um conteúdo manifesto; fantasias originárias" (Laplanche & Pontalis, 1994, p. 169).

Para Freud ninguém crê na própria morte, inconscientemente o ego acredita que é imortal. Podemos inferir que esta crença inconsciente do Ego intensifica o uso do mecanismo da negação, no sentido em que o Ego nega sua finitude. Juntamente a isso o Ego constrói a fantasia de um paraíso onde ele será eterno, onde não há frustrações, semelhante ao útero materno, racionalizando assim o desejo de se viver num mundo que é regido apenas pelo principio do prazer. A fé na vida eterna após a morte é uma racionalização de desejos egoístas do homem, o desejo inconsciente de retornar ao útero da mãe, lugar que simbolicamente representa o paraíso ou o “céu”, onde não existe desprazer (Laplanche & Pontalis, p. 350).
O útero da mãe inconscientemente representa um mundo onde se tem apenas o prazer, haveria um nível baixíssimo ou nulo de excitações, sem ameaças à estrutura do Ego. Conscientemente este útero é representado pelo “céu” onde tudo é maravilhoso, e o desejo inconsciente de retornar ao útero é racionalizado na consciência como o desejo de viver eternamente no “céu”. Isso impulsionaria a crença religiosa.

•Regressão
Outros mecanismos de defesa estão presentes no fenômeno psicológico da fé. Observa-se a ação do mecanismo da regressão no seguinte exemplo:

"A visão Freudiana sobre a religião é interessante. Freud vê que nela os homens são mantidos na imaturidade. As crianças, quando se sentem desamparadas e com medo, buscam nos pais abrigo e proteção, e os adultos buscam este abrigo e proteção num ser criado a partir das suas necessidades psíquicas. Para Freud, a religião mantém o homem na ingenuidade e no comodismo, portanto a hipótese de Deus daria ao homem a possibilidade de continuar sendo criança, não precisando tornar-se adulto" (Freud apud Rocha, 2010, p. 110).
A regressão é o mecanismo de defesa que se caracteriza por retornar o comportamento do individuo a um nível anterior de seu desenvolvimento, fugindo do realismo e aliviando a ansiedade. Neste ponto vemos que os adultos na intenção de se livrar do fardo de toda sua responsabilidade, se entregam a religião com a intenção inconsciente de retornar a um período de sua vida em que eram submissos e protegidos por uma inteligência maior (os pais), desta forma aliviando sua ansiedade. Este comportamento resultante do mecanismo da regressão é racionalizado com a roupagem dos dogmas religiosos.

•Introjeção
Outro mecanismo muito presente no contexto das crenças religiosas é a introjeção, que como o nome sugere é o mecanismo que nos faz absorver conteúdos presentes em outras pessoas ou objetos e aceitá-los como sendo nossos. A introjeção é uma defesa contra a angústia que surge quando nos deparamos com a ausência de algum conteúdo em nós. O conteúdo que se absorve do outro pode ser um estilo de roupa, gíria, o visual. No campo religioso Zimerman tem um ótimo exemplo:

"A igreja foi utilizada por Freud como modelo de liderança que se processa através do fenômeno introjetivo, ou seja, todos os fiéis incorporam a figura de um mesmo líder – na igreja cristã é a figura de Jesus Cristo, o qual, por sua vez é o representante de Deus. Forma-se, pois, uma identificação generalizada com um líder abstrato, e isso mantém a unificação de todos os fiéis" (Zimerman, 2008, p. 140).
Devido ao processo de identificação introjetiva as pessoas absorvem os dogmas ditados pelos líderes religiosos, assim como seus perfis, e os encaram como se fossem verdades do próprio Ego, assim pessoas muitos religiosas encaram uma crítica teórica às suas crenças como se fosse uma crítica pessoal.
Sandor Ferenczi foi o psicanalista que formulou o conceito de introjeção, segundo ele:

“Enquanto o paranóico expulsa do seu ego as tendências que se tornaram desagradáveis, o neurótico, procura a solução fazendo entrar no seu ego a maior parte possível do mundo exterior, fazendo dele objeto de fantasias inconscientes. Podemos pois dar a este processo, em contraste com a projeção, o nome de introjeção.” (Ferenczi apud Laplanche & Pontalis, p. 248)

O perigo de uma multidão que introjeta os conteúdos de um líder, esta na possibilidade de que se introjetem suas características negativas como preconceitos, o que infelizmente é muito frequente.
•Projeção
Muito antes de Freud ter construído a Psicanálise, alguns filósofos já haviam entendido o fenômeno religioso como sendo resultado de projeções feitas pelo homem, tais filósofos foram Feuerbach, Durkheim, Marx, Erikson e Berger (Dalgalarrondo, 2008, p. 32). Feuerbach antecipa maravilhosamente o conceito psicanalítico de projeção, quando afirma que Deus é o interior do homem projetado para fora. Psicanaliticamente falando, o mecanismo da projeção é a:

"Operação pela qual o sujeito expulsa de si e localiza no outro – pessoa ou coisa – qualidades, sentimentos, desejos e mesmo “objetos” que ele desconhece ou recusa nele. Tratasse aqui de uma defesa de origem muito arcaica, que vamos encontrar em ação particularmente na paranóia, mas também em modos de pensar “normais”, como a superstição" (Laplanche & Pontalis, 1994, p. 374).

Assim inferimos que as entidades divinas são construídas por fatores genuinamente humanos, o homem criaria ideia de Deus projetando nela suas características mais essenciais, tais como amor, altruísmo, severidade, ódio, senso de justiça. O homem projeta em seu Deus os seus sentimentos de superioridade, assim este Deus passa a ser visto como detentor de enorme poder. Este fenômeno projetivo acontece em escala cultural, sendo que geralmente um Deus trás com sigo características marcantes do povo que o projetou, exemplo: um povo que é amante da guerra pode ter um Deus guerreiro. Um povo egoísta e egocêntrico pode ter um Deus que deseja ser amado sobre todas as coisas. Um povo cuja cultura valoriza a agricultura pode ter um Deus da fertilidade. Podemos até inferir que tendências como sadomasoquismo também são projetados, assim criando Deuses que exigem sacrifícios humanos ou penitencias onde ocorrem autoflagelações.
Na mesma linha de raciocínio podemos concluir que o Diabo é resultado das projeções que se faz dos conteúdos que foram reprovados e negligenciados em nossa personalidade. Tais conteúdos foram reprimidos por serem incompatíveis com as normas morais. A ideia do Diabo é uma personificação criada a partir da projeção de tendências humanas que foram reprimidas com a internalização da moralidade.

Podemos dizer que grande parte da cultura é construída por projeções, e devido a projeções de sentimentos de superioridade um povo geralmente vê sua cultura como sendo superior às dos demais povos, sempre avaliando as outras a partir dos moldes da sua própria. Tal fenômeno é conhecido pelos antropólogos pelo nome de “etnocentrismo”:

"O etnocentrismo pode ser manifestado no comportamento agressivo ou em atitudes de superioridade e até hostilidade. A discriminação, o proselitismo, a violência, a agressividade verbal são outras formas de expressar o etnocentrismo" (Marconi & Presotto, 2009, p.32).
•Entre o real e o agradável

Como o leitor percebeu, as crenças são apenas meios pelos quais nosso Ego procura evitar frustrações, para isso criando fantasias, negando, distorcendo, racionalizando, regredindo, introjetando e projetando, podendo haver muitos outros mecanismos que para isso contribuem.
Diante destes fatos, inevitavelmente chegamos à conclusão de que nossa mente não é “programada” para tentar entender o mundo, pelo contrário, os processos pelos quais utilizamos para nos adaptar à realidade, tendem a entendê-la da maneira mais agradável possível ao nosso Ego. A realidade pode ser dura o bastante a ponto de impossibilitar o Ego de poder olhá-la de frente. Dessa forma Ego a distorce para que ela fique menos ameaçadora possível. Isso talvez explique a pouca aceitação de visões existencialistas e niilistas do mundo. Talvez explique também a grande aceitação de ideias religiosas e supersticiosas.
O pensamento do homem é o pensamento do auto-engano, sempre vimos mais do que se têm para ver. É claro que existe uma realidade comum a todos que está fora de nossas representações psíquicas, mas ela está lá fora, distante. Esta realidade existe no mundo exterior e é recriada dentro de nossas cabeças. Contudo a realidade recriada em nossa mente obedece às leis dos nossos instintos e desejos, assim a realidade concebida pelo homem é uma ilusão efêmera.
Diante do fato de que nossos processos psíquicos distorcem o nosso entendimento do mundo para proteger a nossa estrutura psíquica de uma realidade ameaçadora, o mais sensato a se fazer, ou melhor, a única coisa que nos resta, é se posicionar como Pírron:

“As coisas são igualmente indiferentes, instáveis e indecidíveis; pelo que, nem as nossas sensações nem as nossas opiniões dizem a verdade ou mentem. Não se deve, por conseguinte, confiar nelas, mas permanecer sem opinião, sem inclinação e sem abalo” (Pírron apud Romão, p. 42).
Considerações Finais

Defronte ao fato de que em nossa própria defesa moldamos involuntariamente a nossa percepção da realidade, somos levados a inferir que nossas crenças, sejam elas religiosas ou não, refletem o que desejamos em nosso intimo. Acreditamos no que nos é agradável acreditar.
O egoísmo, o egocentrismo, e a pretensão humana são determinantes da maneira como a realidade será distorcida no seu psiquismo, e isso se reflete em sua cultura, que depois estará determinando o próprio psiquismo que a criou. Seja em âmbito cultural ou individual, os mecanismos de defesa estarão construindo a representação mental da realidade da maneira mais confortável possível ao Ego. Cada qual com seus mecanismos de defesa. Cada qual com sua realidade particular.
A Psicanálise serve de referencia para se estudar de maneira precisa um número descomunal de aspectos do homem. Quando se estuda o aspecto religioso psicanaliticamente, o encanto é quebrado por uma explicação sistematizada e fria. Sendo a religião um fenômeno humano como outro qualquer, ela deve ser compreendida com base naquilo que constitui o homem. A ideia e a pretensão do homem em se considerar o propósito do universo é uma mera fantasia de seus desejos.
Bibliografia

LAPLANCHE, Jean & PONTALIS, j. –b. Vocabulário da Psicanálise, São Paulo: Ed Martins Fontes. 1994.

FREUD, Anna. O Ego e os Mecanismos de Defesa, Porto Alegre: Ed Artmed. 2006.
ZIMERMAN, David E. Fundamentos Básicos das Grupoterapias, Porto Alegre: Ed Artmed. 2000.

ROCHA, Thiago Rodrigues da. O Ateísmo, Revista da FAROL, Rolim de Moura/RO – Ano VI – N° 11, p. 99 – 113 Jan/Jun. 2010

DALGALARRONDO, Paulo. Religião, Psicopatologia e Saúde Mental, Porto Alegre: Ed Artmed. 2008.

MARCONI, Marina de Andrade & PRESOTTO, Zélia Maria Neves. Antropologia, uma introdução, São Paulo: Ed Atlas S.A. 2009.

ROMÃO, Rui Bertrand. O Conceito de ataraxia nos pirrônicos antigos e na apologia de Raimundo Sabunde, in R.B. Romão (Ed), O ceticismo e Montaigne, UBI, Covilhã (2003), PP. 39-58.


6 comentários:

  1. Thiago. Parabéns pelo artigo muito bem evidenciada a sua ideia,e com um vocabulário maravilhoso, entretanto só não consigo acreditar em evolucionismo sem criacionismo, tudo tem que ser criado, para depois evoluir,portanto Freud pode ter criado esta teoria "falsa" ou não e nós simplesmente acreditar, que de uma maneira ou de outra,inserimos um "fé" em Freud. emfim e uma discussão longa! mas você esta de parabéns.

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  2. Thiago, muito bem argumentada a sua ideia, baseada na teoria de Freud,portanto se basearmos, na teoria física da Termodinâmica, a teoria de Freud e totalmente adversa, dentro desta perspectiva da existência da "fé". Se Deus ou fé e uma criação da própria mente humana, porque não "criamos" outros seres "superiores a "Deus" ?? Nós consideramos ‘algo’ como uma verdade somente por causa de todas as demais coisas que aceitamos como verdades; isto é, porque este"algo" é consistente com nossa experiência e compreensão da vida como um todo.Portanto, nosso conhecimento é relativo! Qualquer sistema degenera para desordem, se "ele" for abandonado a si mesmo"(entropia). Enfim todas as evidencias provadas pela física Termodinâmica e a Noética, contradiz completamente a teoria da evolução,e os parâmetros de Freud, dentro deste contexto da Termodinâmica o mundo e resultado de um planejador consciente. Mas você Thiago esta de parabéns em ter estas ideias, porque hoje vemos poucas pessoas que realmente tem senso critico sobre tudo ! Sugestão estude profundamente as evidencias da Termodinâmica, e as fraudes que houve sobre a teoria que o homem "veio do macaco" Desde já agradeço a sua compreensão.Obrigado.

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  3. Na verdade meu artigo não discute esses temas (criacionismo e evolucionismo), meu artigo é uma simples análise de como os mecanismos de defesa do ego constroem uma realidade alternativa, que não representa perigo a estrutura do Ego. Eu usei a palavra "fé" de forma inadvertida, por isso revisei o artigo e mudei o nome para "O Ego e a Religiosidade". A essência deste texto é apresentar uma espécie de "hipótese da realidade egóica"

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  4. Primeiramente, é um grande erro de epistemologia,avaliar o objeto de estudo de uma ciência a partir dos moldes metodológicos de outra. A entropia não contraria a teoria da evolução das espécies, pois organismos vivos não são sistemas fechados (pois há troca de energia e matéria com o ambiente), os biólogos chamam isso de entropia negativa. Sugestão, leia todos os livros de Freud, a teoria dele não é tão simples a ponto de ser refutada tão facilmente.

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  5. Adriano, o seu comentário não faz sentido, lembre-se que o aparelho psíquico do qual o Thiago fala é atemporal, ou seja, não obedece a uma lógica cronológica. Isso impossibilita a aplicação das noções Termodinâmicas à teria psicanalítica. O Artigo do garoto é perfeito e está totalmente compatível com as proposições e hipóteses anteriores bem aceitas pelos paradigmas freudianos.

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  6. Pedro Souza de Oliveira22 de setembro de 2011 às 14:32

    Adriano, vc não pode usar os métodos de uma ciência para avaliar o objeto de estudo de outra ciência. Vc está cometendo um erro gritante, além do mais, duvido que vc seja formado em Física para poder afirmar algo sobre termodinâmica.

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